quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Welfare, Warfare

No debate de ontem entre os presidenciáveis republicanos, estabeleceu-se uma polêmica entre Ron Paul e Herman Cain em torno da seguinte questão: as pessoas que tomaram empréstimos imobiliários, muito além de suas possibilidades de pagá-los, são vítimas ou estão entre os co-responsáveis pela crise de 2008?
Indiscutivelmente, a maioria dessas pessoas compõe o grupo de perdedores da crise; mas o fato de serem perdedores as torna inocentes?
Bem entendido, muitas dessas pessoas não foram somente ingênuas ao supor que o preço de "seus" imóveis continuaria subindo indefinidamente, o que lhes permitiria, no limite, vendê-los para pagar o empréstimo – elas foram enroladas e induzidas a assinar contratos, aparentemente vantajosos, que eram, na verdade, draconianos.
Porém, mesmo assim, mesmo na situação em que financiadores inescrupulosos e experimentados induziram os tomadores de empréstimo a um contrato cruel, mesmo numa situação dessas, os tomadores de empréstimos são somente vítimas?
Será que, ao se comprometer a pagar o que poderia vir a ser impagável, esses tomadores de empréstimo não sabiam que estavam entrando numa aventura?
Será que não agiram como aquelas pessoas que pensam: "sim, estou sendo irresponsável, mas nada vai dar errado e, se der, alguém vai me salvar"?
Há uns 35 milhões de anos, duas linhagens de mamíferos sobreviveram à extinção dos dinossauros. Uma delas, muito mais tarde, em complexo processo evolutivo, produziria o Homo sapiens sapiens.
Genericamente se diz que essa linhagem sobreviveu e evoluiu porque era mais adaptável aos desafios do meio. Especificamente podemos dizer que esses animais sabiam combinar, melhor que muitos outros, risco e prudência; ou seja, sabiam não apenas cooperar, mas também competir, o que equivalia a evitar ou enfrentar, com alta taxa de sucesso, variados e numerosos inimigos.
"Quem não arrisca não petisca", diz o ditado; mas um outro ditado poderia dizer: "Quem se arrisca sem pensar, riscado será".
O Estado de bem-estar social, invenção europeia que amadureceu no pós-II Guerra, veio para atenuar a famosa guerra de todos contra todos e estabelecer relações sociais menos à base do ser humano como lobo do ser humano; atenuar, é óbvio, não significa extinguir. Welfare (bem-estar) não extingue warfare (estado de guerra), e quem quiser continuar vivo e prosperando que aprenda, de preferência com, mas também sem ajuda alheia, a se arriscar na hora certa e a responder plenamente por todos os seus atos.

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