sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Unidos & desunidos

Os Estados Unidos são desunidos.
Sim, diga-se com todo o acerto que são desunidos, em vez de se supor que apenas estejam desunidos.
Não nos esqueçamos da Guerra Civil que, na segunda metade do século XIX, rasgou o país em dois.
Não nos esqueçamos dos embates radicais que, depois da Guerra Civil, opuseram protecionistas e defensores do livre comércio, amigos e inimigos do padrão ouro.
Não nos esqueçamos dos conflitos raciais, que deixou sequelas inequívocas.
Não nos esqueçamos dos "anos 60", com seus confrontos entre conservadorismo e Contracultura.
Não nos esqueçamos que os Estados Unidos são, de um lado, o país das ações afirmativas, do movimento gay, do politicamente correto, do "Ocupar Wall Street"; de outro, são o país do Tea Party, do puritanismo e da fervorosa defesa do criacionismo.
Os Estados Unidos são o país da educação de alta qualidade e do entretenimento bobo; são o país do livro e da TV; são o país tanto do uso eficiente da internet e do desperdício de tempo no computador (e, no meio de tudo isso, são o país de uma cultura pop interessantíssima).
Os Estados Unidos conseguem ser, ao mesmo tempo, a maior democracia do mundo, não só em tamanho, mas em predisposição associativa e participativa, e a maior plutocracia do mundo.
Os Estados Unidos não precisam de um presidente, precisam de um equilibrista.
Sintomaticamente, o candidato democrata à reeleição, que já foi um delirante utopista, pelo menos na retórica, hoje é um pragmático centrista; deverá, sim, retomar na próxima campanha (como, aliás, já vem retomando) algo de sua retórica utópica e semipopulista; mas o Obama da campanha de 2012 será muito mais pé-no-chão.
Sintomaticamente, também, o pré-candidato republicano mais forte até o momento é igualmente um moderado; deverá, sim, fazer concessões reais e retóricas ao Tea Party, mas Romney não é Palin; seu mais sério rival, Herman Cain, deverá, sim, caso venha a ser o candidato republicano, vestir aqui e ali a capa de herói do Tea Party; mas Cain é e será sempre um homem simples do povo, com todo o senso prático – em vez de delirantes ideologias – de um homem simples do povo; suas extravagâncias apenas informam que ele é um homem do povo com estilo próprio e sem medo de errar.
Os Estados Unidos são desunidos, e por isso mesmo em 2012 escolherão alguém que os ajude a se reunir em torno de seu centro, ainda que esse centro seja estruturalmente vago e instável.

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