terça-feira, 8 de novembro de 2011

Homem: principal vítima do machismo (3)

O machismo, que foi durante muitos milênios um sistema inteligente e vital para a sobrevivência e a prosperidade dos grupos humanos, se converteu numa epidemia.
Não foram os homens, por força de um impulso isolado, que se tornaram machistas. Foi a sociedade, a cultura, que, premida por necessidades dramáticas, impulsionou os homens para o machismo. Além disso, no machismo, todos são machistas - mulheres, crianças etc. - e não somente os homens.
Ocorre que as mulheres, umas mais, outras menos, vêm recebendo da sociedade incentivos cada vez maiores para viver além das fronteiras do machismo. Os incentivos dirigidos aos homens, sobretudo aos homens mais pobres e com menor nível de instrução, são mais modestos.
A relação dos homens com o machismo lembra a história do personagem Gregor Samsa, de A metamorfose, de Kafka. Durante muitos anos, Gregor se exauriu trabalhando para sustentar a família. Um dia, porém, transformou-se em um horrendo inseto. A partir daí, Gregor não servia mais. Após algum tempo, Gregor simplesmente foi atirado na lata do lixo da casa por aqueles que haviam se beneficiado do seu trabalho por tantos anos.
Num país como o Brasil, são milhões os homens que se encontram seriamente enredados no machismo. O machismo, em outros tempos, havia ajudado a converter os homens em heróis. Hoje, os homens machistas são simplesmente lixo social, uma camada de detrito cultural infeccioso que vitima principalmente os homens (as estatísticas estão aí para quem quiser conferir), mas espalha devastação sobre toda a sociedade.
O Brasil é um país negilgente com seus problemas mais graves. Mas quase todos já foram detectados, embora, é verdade, não se faça, em quase todos os casos, o que deveria ser feito para saná-los.
No caso do machismo, o problema é mais grave, porque sequer os governantes e os intelectuais se deram conta de que ele só será superado, ou ao menos significativamente atenuado, se houver um conjunto de políticas públicas voltados para tirar o homem brasileiro do machismo.
Lamentavelmente, as políticas antimachistas, embora ainda precárias, se limitam à proteção da mulher e à denúncia dos homens agressores. Essas políticas, que precisam se fortalecer e se aperfeiçoar, são indispensáveis, porém são francamente insuficientes.
Por hoje, só uma coisinha maias: sabem por que damos mais importância ao sofrimento que o machismo causa às mulheres? Porque, apesar de todas as estatísticas mostrarem que o homem sofre mais com o machismo, nós continuamos a pensar na mulher como o sexo frágil. Ou seja, é o machismo que nos faz pensar que as mulheres sofrem mais com o machismo do que os homens, é o machismo que faz com que não levemos a sério o sofrimento dos homens. Afinal, já dizia um dito machista: homem não chora.
Depois eu continuo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

China, give yourself a chance

A Europa é a chance da China, e a China a chance da Europa.
Por quê?
Porque a economia da Europa precisa do investimento chinês para recuperar parte de seu dinamismo; porque a China, em quatro ou cinco anos, se não encontrar novos destinos para seus investimentos, poderá perder boa parte de seu dinamismo.
Imagine o crescimento da crise política e social na Europa, caso sua economia não se recupere; imagine a crise social na China...
Imaginem, agora, um mundo com uma Europa continuamente deprimida e uma China bem menos animada... Assustador!
O que será, por exemplo, do Brasil, do Chile, da Argentina, com a economia claudicando nos Estados Unidos, rastejando na Europa e apenas caminhando na China?
Algumas pessoas, quando ficam deprimidas, vão às compras para se reanimar.
Os países, porém, quando ficam deprimidos, preferem ir à guerra.
Foi o que fizeram pra dar um jeito na Grande Depressão, na década de 1930.
A China e a Europa estão tendo sua chance; na véspera do G-20, os líderes europeus  estão de mãos estendidas (à espera de yuanes) para Hu Jintao.
A palavra está com a China.
Há uns 600 anos, a China estava muito mais avançada nas navegações ultramarinas que a Europa. Mas eis que, em parte por escassez de recursos e provavelmente muito mais por falta de visão, o imperador chinês proibiu as navegações.
Foi uma chance perdida.
E esta chance agora a China vai aproveitar?
Tomara que sim.
Tudo o que estamos dizendo (nós, pobres mortais) é 'China, give yourself a chance'.