quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Homem: principal vítima do machismo (2)

Uma das dificuldades que muitas pessoas têm para identificar o homem como a principal vítima do machismo reside no fato de elas considerarem vítimas do machismo apenas as mulheres.
Mas um homem que sofre violência de outro homem não pode estar sendo vítima do machismo?
E um homem que dirige sua violência contra si mesmo também não pode estar sendo vítima do machismo?
Para mim, a resposta às duas questões é um inequívoco sim.
O que diz o machismo?
O machismo diz que o homem é guerreiro poderosíssimo; diz ainda que esse guerreiro tem que vencer, senão será desonrado, porque a derrota é o apanágio dos fracos.
Pensem num soldado que, sob a ordem do comandante, se lança à linha de frente no campo de batalha; muitas vitórias dependeram desse tipo de ação ousada, despreendida; muitos homens morreram (e continuam morrendo) assim. É uma combinação de delírio de potência e forte senso de dever, associado à honra) que ajuda o soldado a ir adiante.
Esse mesmo delírio de potência, que é também uma delirante presunção de invulnerabilidade, contribui para que multidões de homens conduzam diariamente veículos automotores com enorme imprudência, ingiram quantidades enormes de álcool, fumem desmedidamente, não recorram aos serviços de saúde, se envolvam em conflitos violentos (para proteger a família ou defender perante si próprios ou perante os demais sua honra de "guerreiros" etc.) e constituam a maioria esmagadora dos efetivos militares do planeta.
Durante milênios, os grupos humanos se apoiaram na coragem desmesurada dos homens para sobreviver e prosperar. Os homens, insuflados pela eficiente cultura do machismo, eram os heróis da proteção (e da agressão contra outros grupos, quando essa agressão convinha) e do provimento do alimento obtido na caça ou, já na civilização, do alimento obtido por meio de uma série de outras atividades
(Enquanto isso, a mulher era a heroína do provimento do leite que fluía do próprio peito e, tudo indica, foi a grande responsável pela domesticação de uma série de plantas, cujo cultivo constituiria uma das mais importantes transformações da vida humana em todos os tempos: a invenção da agricultura).
O fato é que as ações do "guerreiro delirante", essa figura decisiva, até uns poucos séculos atrás, ajudaram a garantir que uma parte da humanidade houvesse sobrevivido e prosperado. Será uma coincidência que todos os grupos primitivos bem-sucedidos e todas as civilizações que prevaleceram e perduraram tenham sido, de uma forma ou de outra, machistas? Por outro lado, mesmo depois que as revoluções na tecnologia tornaram o machismo obsoleto, as ações do "guerreiro delirante" continuam fazendo vítimas, e essas vítimas são, inequivocamente, em maior escala e, na maior parte das vezes, com maior severidade, os homens.
É só consultar as estatísticas de quase todos ou de todos os países para ver quem morre mais em função de ações ou omissões associadas ao delírio de potência e à presunção de invulnerabilidade que ainda povoam a cabeça de uma quantidade gigantesca de homens.
Depois eu continuo.

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