quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O que muda o mundo

A "Primavera Árabe"; as manifestações de estudantes no Chile; os protestos em Londres, antes violentos, agora pacíficos; a mobilização contra o desemprego em Madri, que já dura meses; as greves e passeatas em Atenas contra a "Troica" (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia); o "Ocupar Wall Street", que já conta com a participação de 900 cidades... Tudo isso está sacudindo o mundo e impulsionando uma nova onda de transformações em escala global, certo?
Hum, não sei...
Claro que esses fatos têm sua relevância, mas convém não exagerar.
Afinal, o que muda o mundo?
Muito analistas, historiadores e ideólogos repetem ad nauseam que "os anos 60" mudaram a fisionomia do mundo, com suas lutas políticas e a chamada Contracultura.
Será?
Bom, é inegável que "os anos 60" foram muito importantes. Esses foram anos, por exemplo, de urbanização acelerada e desaceleração das taxas de fecundidade em boa parte do planeta.
Mas quais as forças motrizes dessas e de outras mudanças?
Destaco uma: a evolução do conhecimento e da tecnologia.
Enquanto muitos manifestantes consumiam seu tempo em protestos "nos anos 60", outros jovens optavam por priorizar o estudo e a pesquisa.
Foi esse empenho intelectual que redundou, na década seguinte, numa série de fenômenos que, no caso de alguns, têm, até hoje, enorme importância para a vida, talvez, da maioria pessoas.
No Brasil, foram os esforços desenvolvidos "nos anos 60" que resultaram, "nos anos 70", no início da exploração de petróleo em alto-mar e no processo continuado de aumento descomunal da produtividade agropecuária. Nunca é demais lembrar que nossos êxitos socioeconômicos nos últimos anos e as boas perspectivas para as próximas décadas estão lastreados, em larga medida, em petróleo e agropecuária.
Nos Estados Unidos, "os anos 70" assistiram, só para citar um exemplo, à invenção do computador pessoal, desdobramento de êxitos anteriores no campo da informática.
A multidão de estudantes e pesquisadores, devotados diariamente à reflexão e à inovação, representa um contingente muito mais amplo e muito mais estável e permanente que qualquer movimento político, por mais massivo e duradouro que seja. E, me inclino a crer, seus resultados são também mais impactantes, já que mais estruturantes e longevos, que o das lutas políticas.
Mesmo quando se pensa na democracia, como regime que favorece a livre expansão das ideias, é preciso convir que sua implantação ocorreu em sociedades com longa tradição intelectual humanista e pró-democracia e com retrospecto considerável de desenvolvimento científico e tecnológico.
A democracia, além de filha do progresso do pensamento, é o regime político que reconhece a primazia do conhecimento sobre a política, porque nela as pessoas, sem precisar lutar diariamente por isso, já têm à mão a necessária liberdade para estudar, pensar, experimentar.
Quando, porém, sociedades inteiras optam pela primazia da política sobre a reflexão e a inovação científica e tecnológica, como aconteceu em todas as experiências do chamado "socialismo real", e prossegue até hoje em Cuba e na Coreia do Norte, os resultados são sem dúvida impactantes e longevos, embora catastróficos.
Mas não é esse tipo de mudança que estamos buscando, não é mesmo?

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