segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Foi ruim, mas foi bom

Uma das contradições mais curiosas de admiradores brasileiros dos Estados Unidos é que essas pessoas repudiam o nacionalismo, como uma forma de pensar e agir supostamente atrasada. Ora, mas esses compatriotas parecem se esquecer de algo elementar: os Estados Unidos só chegaram aonde chegaram à base de fervoroso – e às vezes furioso – nacionalismo.
Porém, meus compatriotas do time oposto, os antiamericanos, não estão livres de contradições igualmente curiosas. Por exemplo: apoiam o movimento "Ocupar Wall Street". Ok. Esse movimento, porém, é contra a influência das grandes corporações no governo. Ora, mas a maioria dos nossos antiamericamos não parece ver problema nenhum na enorme influência que a megacorporação brasileira do petróleo, a Petrobras, exerce sobre o governo brasileiro. É só dar uma examinada no novo marco regulatório do pré-sal e constatar como ele foi feito sob medida para o bem da Petrobras e não necessariamente para o bem do povo brasileiro. O governo brasileiro tem precária autonomia, se tem alguma, diante da "nossa" gigante do petróleo.
Nossos antiamericanos, na mesma linha, bradam a plenos pulmões contra a "era da desregulamentação", mais uma das queixas do "Ocupar Wall Street". De fato, muita coisa errada aconteceu no mercado financeiro dos Estados Unidos, e a frouxidão da regulamentação favoreceu a fraude e o endividamento irresponsável – propiciou inclusive recompensas milionárias para fraudadores e emprestadores irresponsáveis. Porém, foi nessa mesma "era da desregulamentação" que se acelerou o crescimento econômico dos emergentes e se assistiu à ascensão social de muita gente nesses países. Como isso ocorreu? Em parte, assim: o afrouxamento do crédito impulsionou o consumo nos Estados Unidos; o consumo nos Estados Unidos impulsionou o investimento e a produção na China; o faturamento da China com as vendas para os Estados Unidos se transformou em nova fonte de crédito, não só para os Estados Unidos, mas também para, por exemplo, a América Latina em geral e o Brasil em particular; além disso, o investimento e a produção na China demandaram mais produtos primários da América Latina em geral e do Brasil em particular, o que melhorou a situação econômico-financeira da região e do nosso país.
Parte das conquistas que todos os países envolvidos experimentaram com a "era da desregulamentação" foi destruída pela crise de 2008 e a recessão em que ela desembocou. Só parte. Muita gente, mundo afora e Brasil adentro – haja vista nossa classe C –, continua surfando nos benefícios gerados pela "era da desregulamentação". E muita gente parece se esquecer que o que foi ruim também foi bom.

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